Aos 34 anos, Fernando Prass já não tem mais tempo para perder com sonhos de futebol europeu ou seleção brasileira. Também não nascem rugas ou fios brancos no cabelo estilo moicano do experiente goleiro quando se põe diante das tímidas e raras vaias em São Januário. Depois de Carlos Germano, o gaúcho de Porto Alegre foi quem mais atuou no gol vascaíno. Hoje, às 18h30m, contra o Atlético-GO, na 220 partida, Prass só não quer se arrepender mais tarde de pontos que ficaram pelo caminho no ano passado.
— Um jogo que não me esqueço foi aquele empate com o Figueirense depois do título da Copa do Brasil. Ganhamos na quarta, passamos o dia inteiro comemorando na quinta. Sexta fizemos um treinozinho de meia hora. Estava todo mundo morto, mesmo assim ganhávamos até os 45 do segundo tempo. Isso fica na memória — lembra Fernando, que demorou a se acostumar com o sobrenome Prass do pai acrescentado ao seu nome.
Quando o goleiro chegou de Portugal, depois de quatro anos no União Leiria, onde substituiu Helton, o Vasco não tinha nem time para entrar em campo. Prass conta nos dedos os nomes de Fernando, zagueiro, mais outras revelações, como Alex Teixeira e Souza. No pacote de outras 10 contratações, Prass é um dos sobreviventes da campanha na série B, em 2009.
— Eu valorizo muito o que fiz aqui. Depois do Fábio, em 2004, passaram 10 goleiros pelo Vasco. E não eram todos maus goleiros, mas nenhum conseguiu jogar um ano. Alguma coisa devo ter de bom — diz ele, que analisa friamente as críticas. Até aquelas que considera injustas. Como a que ele acabou de desmistificar: de não pegar pênaltis.
— Isso não me incomoda. Penso assim: na Série A, deve ter uns 40 goleiros, somando titulares e reservas. Imagina no mundo inteiro. Mas aí alguém vê na final da Champions o cara pegando três pênaltis. No fim de semana, acontece que um daqui pega também. "Ah, só o Prass não pega pênalti". É um universo muito grande para fazer essa comparação — avalia ele, que desqualifica algumas críticas: — Às vezes não é nem de torcida. Num jogo que peguei pênalti, ouvi na TV o cara falar "o jogador veio mostrando, telegrafou". Era para não ter goleiro então? Opinião de quem não jogou, de quem não foi goleiro, tem coisas absurdas.
Se ficou claro que Prass discorda das críticas, ele surpreende na auto-avaliação.
— Não considero que sou um goleiro com fundamentos excepcionais. Na saída aérea, rasteira, reposição… Não acho que sou excepcional em ponto nenhum, mas acho também que não tenho grande defeito que possa chamar de ponto fraco.
Liderança dentro e fora do campo
Líder do time, junto com os mais experientes, Fernando Prass mobilizou o elenco contra os atrasos salariais no início do ano. As reuniões entre o grupo começaram nos jantares da pré-temporada em Atibaia. Como o problema não se resolveu, ao contrário das promessas de 2011, a solução foi flexibilizar a concentração. Um ganho que permanece até os dias de hoje.
— Antes, tinha semanas com jogo domingo e quarta, que de sete dias, ficávamos no hotel em cinco. Ninguém aguenta — diz Prass, que temeu novos problemas no fim da Libertadores: — Estávamos tão focados que passávamos por cima de tudo. Mas passamos a borracha e recomeçamos tudo do zero.
Enquanto brinca e tenta desencorajar em vão o filho Caio, que quer ser goleiro do Vasco no futuro, Prass fala sério das chances do time no Brasileiro, agora que perdeu alguns jogadores e há a ameaça de outros saírem.
— Não é fácil tirar um Rômulo, botar qualquer um e dar conta do recado. Ainda mais imediatamente. Os outros times também vão perder, vai ganhar quem repuser melhor — afirma o goleiro do Vasco, que comenta as chances do filho em sucedê-lo um dia: — Ele quer fazer tudo igual a jogador. Vai no hotel, quer comer as mesmas coisas que a gente. Mas tem um lado bom, outro dia a gente saiu com ele, disse que não queria um picolé de limão, aí falei: "O Neymar toma dois desse". Ele tomou na hora.
É nesse clima que Prass quer jogar mais quatro anos, no mínimo. Enquanto a vida fora das traves segue indefinida, o certo é que o Rio virou a casa dele, da mulher e dos filhos gêmeos Caio e Helena, de cinco anos.
Fonte: Extra online
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